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Onde está a nossa esperança?

Alguém disse certa vez: “a esperança é o que nos move”. Esta afirmação é correta devido a que a esperança contempla uma meta, um objetivo a ser alcançado. Objetivo pelo qual não desistimos e não medimos esforços.

Há na Igreja de Cristo muitos que têm colocado suas esperanças em coisas externas ou passageiras, criando uma separação entre a Igreja de Cristo hoje, e a Igreja de Cristo dos primeiros três séculos.  De maneira que surge a necessidade de exortar, e meditar sobre a forma em que temos vivido e onde temos colocado a nossa esperança.

Para termos um parâmetro correto de onde deve estar a nossa esperança, podemos ver onde estava a esperança de Paulo analisando o que Ele escreveu aos filipenses.

Filipenses 3.2-11 – “Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão! Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”.

Temos nesta porção os parâmetros de onde deve estar a nossa esperança e o porquê.

Primeiramente ele adverte sobre homens que incitam a seguirem determinadas práticas para alcançar algum tipo de nível espiritual, como se marcas visíveis fossem acrescentar alguma coisa à obra do Espírito. Estes judeus que insistiam em que os gentios deviam ser circuncidados e deviam seguir as práticas correspondentes à lei de Moisés, geravam confusão entre os novos convertidos e os desviavam da meta.

É por isto que Paulo, logo de advertir sobre tais homens, dá o motivo pelo qual não devem dar ouvidos, e se coloca assim mesmo como exemplo. Primeiramente porque a circuncisão é do coração, invisível, e efetuada pelo Espírito Santo, por isso ele diz “nós somos a circuncisão” e acrescenta “nós adoramos a Deus no Espírito” e continua; “nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne”.

Poderia apenas usar estas cinco palavras para explicar a questão da nossa esperança, “e não confiamos na carne” pois é chave, mas, prefiro abranger todo o contexto para que não haja dúvida sobre aquilo que estamos tratando.

O que quis dizer Paulo quando escreve que “não confiamos na carne”? Ele nos está dizendo que como autênticos cristãos -como eram os de Filipos-, não nos fiamos daquilo que é material, daquilo que é tangível, daquilo que podemos ver ou fazer. Eis a grande diferença entre a Igreja de Cristo hoje e a Igreja de Cristo em Filipos de uma forma geral. Porque a mensagem do evangelho que mais é transmitida e anunciada é a nova vida em Cristo com implicações físicas e materiais, coisas do tipo “antes não tinha nada e agora tenho tudo” e como antes não tinha nada e agora tenho tudo, é evidência da minha nova vida em Cristo. E não digo com isto que não haja benção materiais por parte de Deus para determinadas pessoas em determinadas circunstâncias e determinados propósitos. Porém o problema está em que coisas deste tipo desviam a nossa esperança e a transferem para aquilo que é da carne. E quando Paulo está falando de “carne” aqui especificamente, não está falando de pecado, senão teria utilizado a palavra “carnal”, mas ele utiliza a palavra “carne” para se referir justamente a aquilo que é material. Por isso ele escreve nos versículos seguintes, se há algo de bom na carne para se gloriar, eu deveria ser quem mais motivos tem. Em resumo ele diz: eu tinha tudo para me gloriar, primeiro em tudo, mas no versículo 7 ele diz aquilo que poucos se atrevem a dizer, “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”. Porque alegres cantamos: “sou abençoado, por tudo lado, em tudo o que eu faço, sou abençoado”, não tenho problema nenhum com benção material, nem a Bíblia tem, mas a partir do momento em que aquilo que é visível se traspõe ao invisível não há mais esperança, não há lugar para a esperança, ao final de contas esperamos o que? Já fomos abençoados em tudo, não nos falta nada, o que mais esperar se já tenho tudo; saúde, uma linda casa, um bom carro, uma linda família, uma igreja abençoada...do que mais eu preciso? Não há lugar para a esperança.

Na sequência do texto, Paulo explica o porquê tudo aquilo que pelos outros é considerado como lucro, para ele não tem valor nenhum, ele diz: “...considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé, para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”

Se hoje tenho tudo; glória a Deus, se amanhã não tenho nada; glória a Deus também, pois tudo o considero como perda, porque por sobre todo está o conhecimento de Cristo, e por causa do seu amor, todas as coisas são descartáveis a fim de alcançar a Cristo –não salvificamente-, e ser achado nele, ou melhor dito, que quando olharem para mim, vejam a Cristo. Não por boas obras demandadas por lei, senão como fruto da fé em Cristo, em quem sou justificado, para o conhecer –ser um com ele-, tendo parte na sua ressurreição, nos seus sofrimentos, e até na sua morte...e aqui está a esperança de Paulo: “para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”

O motivo de Paulo considerar tudo como “fezes” –como diz no original-, é devido a que seus olhos estavam fixados na eternidade, naquilo que é espiritual, e não naquilo que é material, da carne!

Portanto irmãos, cuidado! Com aqueles que enfatizam os benefícios materiais, e ignoram o fato de que todo neste mundo é passageiro, dai a advertencia: “de que adianta o homem ganhar o mundo e perder sua alma? ”. 

Sobre estes que proclamam bênçãos terrenas por sobre as espirituais escreveu no versículo 19 “O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a gloria deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas” 
Em outras palavras; “perdidos estão por quanto, buscam encher suas barrigas, e se orgulham daquilo que deveria lhes envergonhar, devido a que sua preocupação são somente as coisas terrenas”

Onde está, pois, a nossa esperança?

“Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas”

Quando ouço alguém dizer: “O melhor de Deus está por vir”. Meus pensamentos se transladam para aquele dia glorioso quando o Senhor Jesus Cristo virá, e me levará para perto de si. Aí está minha esperança.

Para concluir. Como disse no começo, há uma grande diferença entre a Igreja de Cristo de hoje e a Igreja de Cristo dos primeiros séculos, enquanto a saudação em aramaico dos primeiros séculos era:  "Maranata", a nossa é “Deus te abençoe”, quem sabe as palavras que o Senhor deu ao profeta Jeremias, possam achar lugar hoje em nossas vidas: “Assim diz o Senhor: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para vossa alma...” (Jr. 6.16).



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